10/09/2010 20:04

Os IDS e o desenvolvimento sustentável no Brasil

 

Os IDS e o desenvolvimento sustentável no Brasil
 

Como andam os indicadores relativos à sustentabilidade ambiental, social e econômica do Brasil? O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, esta semana, o relatório Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2010 (IDS), que pretende dar resposta a esta pergunta. Ele reúne uma série de dados num sistema de informações que permite acompanhar a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro. Os dados estão divididos em quatro dimensões: ambiental, social, econômica e institucional.

De modo geral, os IDS 2010 mostram evolução em todos os indicadores dos quatro temas pesquisados. Em relação ao meio ambiente, por exemplo, o relatório registra diminuição nos focos de queimadas e no desmatamento da Amazônia. Mas aponta a devastação do cerrado e a (quase) extinção da Mata Atlântica, já que restam menos de 10% da floresta original. Na dimensão social, os IDS apontam a diminuição da igualdade, mas destacam que, mesmo assim, as disparidades sociais e regionais ainda são muito altas. Na macroeconomia, destaque para a estabilidade de produção e consumo, para o aumento do consumo de energia sem o incremento da eficiência e para a reciclagem de latas de alumínio, que atinge 90%. Na dimensão institucional, os avanços se concentram no maior acesso à telefonia e à internet e na ratificação, pelo país, de mais de 30 acordos internacionais.

Mas persistem as desigualdades sociais e regionais, bem como os impactos ambientais. Portanto, ainda temos um longo caminho pela frente, o qual parece que estamos trilhando a passo de tartaruga. As mudanças necessárias para o desenvolvimento sustentável não estão sendo discutidas nesta campanha política. As ações anunciadas nos palanques não indicam que vamos acelerar a marcha. As informações dos IDS, que dizem respeito a 2009, não estão sequer mencionadas nos programas dos candidatos. Mais do que saber sobre o passado, precisamos olhar para o futuro dos ecossistemas e da biodiversidade, nossa maior riqueza.

Na próxima semana, em Curitiba, haverá um seminário internacional para discutir justamente isso: o valor dos ecossistemas e da biodiversidade para o desenvolvimento local e regional. A idéia é que o Brasil e outros países do continente se engajem na iniciativa internacional em andamento, denominada The Economics of Ecosystems and Biodiversity (Teeb – A Economia de Ecossistemas e Biodiversidade).

O Teeb foi feito para atender à demanda dos ministros do Meio Ambiente dos países do chamado G8+5, que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido, Rússia e mais cinco das principais nações emergentes: África do Sul, Brasil, China, Índia e México. Na reunião do Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente (Pnuma) em 2007, eles solicitaram um estudo que mostrasse o impacto econômico gerado pelas perdas da biodiversidade. Num primeiro levantamento, o estudo do Teeb revelou que o prejuízo anual da economia global com o desmatamento chega a US$ 4,5 trilhões, o equivalente ao PIB do Japão. O volume de benefícios trazidos pela preservação e uso sustentável da natureza é algo que o Teeb está calculando juntamente com governos e a sociedade civil no mundo todo. Ou seja, nós é que vamos definir o valor que damos para as riquezas e o patrimônio natural.

Conscientes da importância dos ecossistemas e da biodiversidade para a sobrevivência dos próprios negócios, um grupo de empresas e ONGs lançou no início de agosto, em São Paulo, o Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade. O objetivo é influenciar o governo brasileiro a levar uma posição avançada à Conferência de Nagoia, em outubro, e a aprovar uma legislação específica sobre o tema, a exemplo do que fez com as mudanças do clima.

Esses dois eventos demonstram que a sociedade brasileira está preocupada, mexe-se e quer um desenvolvimento com sustentabilidade. Falta exigir que as instituições públicas caminhem no mesmo passo.

Na verdade, em que pesem os avanços, ainda somos uma sociedade de desperdício e de desigualdade, e não vamos superar esse padrão se não construirmos outro modo de produzir e consumir.

Por Paulo Itacarambi, vice-presidente executivo do Instituto Ethos

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